Um jornalista no Brasil está mostrando aos idosos como enganar a desinformação, uma mensagem de WhatsApp por vez
Talita Rosa conversando com participantes do workshop. (Cortesia: Talita Rosa) As ferramentas de literacia mediática mais sofisticadas do mundo são inúteis se não encontrarem as pessoas onde elas estão.
A jornalista do Sul do Brasil, Talita Rosa, encontrou pela primeira vez a frase notícias falsas em 2017, anos antes de ela entrar nas conversas cotidianas brasileiras. Esse curso online despertou seu interesse pela verificação de fatos e mais tarde a levou a lançar o Prova Real, um projeto de verificação pioneiro para a região.
Como profissional de comunicação, Rosa percebeu rapidamente que combater a desinformação e a desinformação exigiria mais do que apenas jornalistas; exigiu uma mudança fundamental na forma como as comunidades compreendem e partilham informações.
Avançando para 2024. Rosa estava sentada no conselho municipal da sua comunidade pedindo apoio para ensinar os residentes idosos a verificar o que veem online. Ela não queria ensinar as complexas técnicas de verificação de factos preferidas pelos especialistas em meios de comunicação social, mas sim algo muito mais prático: como utilizar a ferramenta de inteligência artificial integrada no WhatsApp, onde muitos destes residentes consumiam e partilhavam notícias.
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Sua visão revolucionária? Conheça pessoas onde elas estão com ferramentas que elas possam usar.
A partir daquele primeiro curso online em 2017, Rosa mergulhou no mundo da verificação de fatos, consumindo conteúdo e cursos, incluindo os recursos de treinamento do Poynter. Então, quando ela soube da iniciativa de treinamento de treinadores para desarmamento e desinformação do Centro Internacional para Jornalistas, que incluía treinamento em alfabetização midiática do MediaWise de Poynter, ela se inscreveu imediatamente.
Durante a formação Rosa expandiu o seu conhecimento sobre ferramentas e técnicas de literacia mediática. Mas uma lição permaneceu: o planeamento da formação deve basear-se nas necessidades do público e não apenas nas convicções do formador como educador.
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A troca de experiências ampliou a minha compreensão das realidades e perspectivas de outros contextos contribuindo para uma perspectiva mais global no combate à desinformação, disse ela. Isto foi especialmente relevante nos países do Sul global, onde as peculiaridades locais (como os baixos níveis educacionais, o acesso limitado à Internet, etc.) exigem estratégias específicas que sejam sensíveis às realidades de cada comunidade.
Depois de concluir o programa, Rosa regressou a casa para desenvolver o seu próprio plano de formação centrado em três questões centrais: Por onde começar? Quem treinar? Como alcançá-los?

Os participantes do workshop participam de uma sessão. (Cortesia: Talita Rosa)
As primeiras coisas primeiro
Enquanto Rosa participava dos workshops MediaWise, ela pensava em quem ela queria alcançar. Pensando em seus mais de 18 anos como repórter, ela conheceu pessoas de todas as esferas da vida. Mas mesmo dentro dos mesmos bairros, o acesso e a compreensão da informação variavam amplamente.
Seus próprios familiares idosos começaram a contatá-la para confirmar as notícias que recebiam por meio de mensagens ou redes sociais. Essa experiência — combinada com o conhecimento de que os idosos do sul do Brasil são economicamente, social e culturalmente ativos — ajudou-a a perceber que a comunidade está digitalmente engajada, mas vulnerável.
Para alcançá-los, Rosa sabia que precisaria do apoio dos líderes comunitários. Ela recorreu ao Conselho Municipal dos Direitos do Idoso que apoiou por unanimidade a sua ideia. As peças logo se encaixaram. Ela fez parceria com organizações seniores ansiosas por realizar workshops e programou oito sessões que alcançaram mais de 150 participantes — pessoas que de outra forma não teriam essa oportunidade de aprendizagem.
Preparação para workshop
Antes da primeira sessão, Rosa visitou cada comunidade e distribuiu um breve questionário para avaliar as competências e preocupações dos participantes. Esta informação ajudou-a a adaptar o conteúdo ao contexto e às necessidades do grupo.
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Ela começou cada workshop com uma etapa de conscientização. Eles discutiram situações cotidianas em que as pessoas podem ser enganadas: fraudes financeiras na aposentadoria, desinformação na saúde. A partir daí, ela conectou esses exemplos aos seus hábitos diários na mídia, mostrando que o engano pode ocorrer em qualquer lugar sobre qualquer assunto.
Para tornar o conceito concreto, Rosa comparou a detecção de notícias confiáveis ao reconhecimento de notas autênticas. Ela explicou as pistas a serem procuradas ao distinguir entre marcas legítimas e impostoras.
Muitos participantes não tinham conhecimento de tecnologia e raramente procuravam fontes confiáveis. Em vez disso, consumiram as informações que chegavam às suas plataformas de mensagens – especialmente vídeos e imagens. Combinado com as baixas taxas de alfabetização, isto significava que as competências tradicionais de literacia mediática, como a leitura lateral, não eram realistas. Então Rosa ajustou sua abordagem para o público, apoiando-se em pistas visuais e sonoras.
Os workshops de Rosa aconteceram na mesma época em que o WhatsApp lançou uma ferramenta integrada de verificação de IA. Rosa incorporou isso em suas aulas, mostrando como usar a ferramenta como uma alternativa acessível à leitura lateral.
O que resultou dessas oficinas? O resultado mais duradouro foi um grupo de WhatsApp chamado Conta Outra – traduzido livremente como Tell Me Another ou com uma piscadela, Boa Tentativa. Agora, 100 membros fortes dos workshops de Rosa usam o chat para compartilhar mensagens questionáveis, verifique-os juntos e alertem uns aos outros sobre fraudes. É um espaço livre de julgamento para os idosos se reunirem e apoiarem uns aos outros em sua jornada em busca de informações confiáveis.
Como parte de alguns workshops, Rosa levou alguns participantes aos meios de comunicação locais, onde observaram como os jornalistas criam uma notícia. Observar os repórteres em acção ajudou a desmistificar o processo e a fortalecer a confiança nos meios de comunicação locais.

Participantes do workshop conversando durante um exercício. (Cortesia: Talita Rosa)
Impacto
Os participantes saíram dos workshops de Rosa sentindo-se mais resilientes e preparados para enfrentar um complexo ecossistema de informação. Não só estavam mais bem equipados e confiantes, como saíram com uma maior compreensão de como a desinformação e a desinformação podem facilmente manipular as pessoas.
O compartilhamento inconsciente de notícias falsas ou enganosas pode causar relacionamentos tensos entre amigos e familiares. Essas oficinas tiveram como objetivo frustrar esses momentos de tensão. Um participante disse que quando seu filho o corrigia sobre a desinformação, ele considerava isso um preconceito político. Após o workshop, ele disse a Rosa que agora ele próprio reconhece os sinais de manipulação.
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Os workshops também reforçaram a confiança entre os participantes e a imprensa local, o que contribui — directa e indirectamente — para enfrentar os desafios colectivos e fortalecer a comunidade como um todo.
Mostraram uma abertura à aprendizagem que foi muito contagiante, disse Rosa. Eles valorizaram a atividade como um aprendizado e manifestaram preocupação ao compreenderem os riscos aos quais estão expostos via WhatsApp.
O que vem a seguir:
Insatisfeita com as técnicas de verificação existentes que não atendem às necessidades de todos os públicos, Rosa iniciou um projeto de pesquisa de mestrado investigando como o design da informação pode tornar as notícias e a checagem de fatos mais acessíveis aos brasileiros.
Ela continua a liderar workshops para idosos e agora está expandindo para escolas secundárias com foco no combate à desinformação climática, com foco especial na proteção dos oceanos.





































